domingo, 2 de março de 2008

Encontros da vida


28 de Fevereiro de 1934 nasce o que viria a ser, juntamente com a minha mãe, o meu progenitor onde após uma troca de correspondência entre Angola e Portugal viriam a unir as suas vidas dando origem a dois "frutos" sendo que um deles Sou Eu que por minha vez, mais o ex.mo meu marido - outro fruto, desencadeou a existência de mais duas vidas uma delas é o Gaspar e é por ele que neste mesmo dia 28 de Fevereiro, porém do ano de 2008 me encontro a fazer a mala para mais uma ida ao hospital enquanto ele (meu filho), alheio aos meus pensamentos, sela com fita-cola cuidadosamente a porta do quarto a fim de garantir a não presença do irmão naquele espaço durante a sua ausência me informa decidido que... Está Pronto.

Pelo corredor segue à minha frente em passo apertado para chamar o elevador que nos levará ao tão conhecido 7º piso. Enquanto esperamos, cruzo olhares cúmplices com doentes, alguns bastante transfigurados pela doença. Ali é um espaço sem complacências nem olhares indiscretos, todos padecem do mesmo mal. Sinto que estamos todos no mesmo "barco". Um "barco" pesado e duro que nos deixa , à medida que subimos, com o coração cada vez mais apertadinho e num silêncio absoluto.

Já nos aguardavam impacientes, uma falha na comunicação, uma hora mal percebida. Temos tempo.
Depois de deixar actuar uma espécie de Valium com poder amnésico e de verificadas a valente "pedrada" com que o doente se encontra retiro-me da sala e é feita a P.L.(punção lombar). A médica esclarece-me mais uma vez sobre a intenção da mesma. Resumidamente verificar se tudo se mantem limpo como até aqui. E porque a "descompressão", uma vez que tem uma válvula na cabeça poderá ocorrer (+ ou - isto) acharam por bem mantê-lo sob vigilância 24 horas. E lá estavamos nós....Desta feita sem o arrastar de carrinhos, nem máquinas que apitam, sem dores ou enjoos. Tinha ao meu lado um menino que brincava numa sala rodeado de jogos, livros, triciclos e outros brinquedos e que, volta e meia, a sorrir me segredava:- "Ainda bem que eu não tenho fios pendurados mãe". Pois é filho pensava eu cá para comigo- Livramo-nos deste inferno (seja lá o que isso for).

O resultado foi negativo e isso é bom. Fiquei contente embora a felicidade nunca seja em pleno. No quarto ao lado está uma mãe que espera pela morte da filha a qualquer momento após ano e meio de tratamento, longe de casa, longe dos seus. Que inglório pode ser tudo isto. Não se fica , de todo, indiferente a esta realidade que podia muito bem ser a nossa.

Aproveito ainda para agradecer a todos aqueles que contribuem para que a estadia neste espaço seja o melhor possível:
.auxiliares
.enfermeiras
.médicos
.assistente social
.psicóloga
.terapeutas
.secretárias
.educadoras

UM GRANDE BEM-HAJA A TODOS

4 comentários:

Anónimo disse...

oii:)
muita força para vocês os 3 ,parabens pelo lindo menino,fiquem com os anjos.bj Ana Matias

Anónimo disse...

Yes...!!! Desculpa lá paveia mas eu gosto mesmo é de - ou melhor: não consigo resistir a – comentar os posts da analu. Sempre sensíveis e certeiros como (só) ela sabe.
Há muito que muitos - e vocês mais que todos - desejavam, ansiavam viver estes dias: esta sensação de salvação, de descompressão, de retorno a qualquer coisa que foi interrompida de forma tão cataclísmica e há já tantos meses.
Foi com – e por causa da - força do Gaspar, do Gustavo, da Ana e do Paulo que chegámos até aqui, desta maneira. Por causa da força individual de cada um, como pessoa, e da mega força colectiva que eles emanam, como família. Deixemo-nos então, todos, invadir por esta sensação de alívio, de felicidade e de capacidade de deslumbramento com as coisas normais e banais do nosso quotidiano. Com (cada vez maior) distância dos cataclismos mas com a imensa e única aprendizagem de quem atravessou (ou viu atravessar) o centro do tornado, de olhos abertos e sem desvios. Nada como seguir o exemplo e manter os olhos abertos para ser capaz, mais vezes, de estar sinceramente grato pelo dia a dia. Só isso.
Lamento o tom lamechas e longo, mas saiu assim
Pf
Ps: como diria (com sotaque barasileiro) uma pessoa que eu (não) conheço: «vocês são muito jedi» (leia-se: vósseis são muuuito jéédai!! )
qq dia vejam lá se me ensinam a usar os sabres de luz…
;-)

analuE disse...

Meu bom amigo estás longe do tom lamechas, bonitas palavras e muito acertivas. Um grande abraço

analuE disse...

Perdão quis dizer assertivas.