esta fotografia foi tirada depois de uma intervenção cirúrgica. já tinha acontecido há uns dias no sentido de restabelecer ligação entre os ventrículos (ventriculostomia) que teria ficado afectada pelo tumor. o gaspar estava a recuperar de uma meningite, tinha um dreno para o exterior por onde saía o líquido céfalo-raquidiano (LCR), um contentor para onde ia esse liquor que tinha de estar a uma determinada altura relativamente ao nível da cabeça e os médicos queriam desfazer-se desse dreno que parecia só trazer problemas. estando a melhorar da meningite era premente desfazerem-se daquela entrada directa para a cabeça de bicharada maléfica. resolveram então submeter o gaspar a mais uma intervenção que se resultasse evitaria ter de colocar um shunt (derivação ventrículo-peritoneal), um objecto que se pudesse não estar para o futuro, seria bom. disseram-nos que as 24h a seguir seriam vitais para o bom resultado da cirurgia, depois poderíamos descansar. lá fomos no dia 25 de setembro para mais um ritual daqueles de deixar o gaspar na sala de operações, nas mãos do dr joaquim pedro e da dra conceição marques, desejar um bom trabalho e sair lavado em lágrimas.
umas horas de espera nos separaram de estarmos de novo no quarto. nessa noite eu e a ana fizémos um pedido especial para ficarmos os dois a dormir junto do gaspar (é permitida a permanência de um dos pais à noite, no tal cadeirão que faz de conta:), pois seria uma noite muito importante.
ficámos, correu tudo bem nessa noite, correu tudo bem no dia seguinte, aliviámos, continuou a correr tudo bem, com o gaspar a ter uma excelente recuperação nesses dias. que bom, que contentes. assim seria melhor para os tratamentos que ainda viriam.
no dia 4 de outubro, estava eu a chegar para render a ana e eis que estava tudo em mudança, estavam a levar o gaspar para a enfermaria no 7º piso do hsfx, ia sair lá de baixo da urgência ... que choque. afinal lá em baixo já éramos uma família. na subida já achei o gaspar diferente, passava-se alguma coisa. era o fim da manhã, hora do almoço e depois de nos instalarmos no quarto lá veio o almoço. nessa altura estávamos a dar um xarope probiótico ao gaspar para estimular as defesas. lá em baixo já toda a gente sabia e fazia parte do esquema diário, ter uma seringa para medir, arranjar um sumo para a mistura, mas lá em cima, tudo foi uma novidade. tudo pareceu estranho e ainda por cima quem nos recebeu não foi ninguém que fosse do nosso conhecimento. parecia estarmos a começar tudo de novo.
dado o historial de hidrocefalias do gaspar, avisei as enfermeiras que estava a achar o gaspar muito sonolento. depois do almoço veio o primeiro vómito e voltei a alertar. a capacidade de resposta do gaspar estava a piorar, os olhos fechavam. eu que sou o pai seria supostamente o melhor interlocutor, mais ainda quando o gaspar estava sem falar. a enfermeira disse que ia falar com o médico e ... não o fez dizendo que o tinha feito, olhando com ar desconfiado para o xarope. durante a tarde tentei tudo o que já tinha resultado em fazer rir o gaspar e nada.
à noite o episódio voltou a repetir. já passava das nove quando o gaspar no meio da sua sonolência soltou mais um vómito violento. daí para a frente foi a vinda do médico, o dr miguel casimiro, mais umas voltas à volta do xarope não fosse aquilo ser provocado pelo dito, principalmente por constarem no processo do gaspar hidrocefalias e ventriculostomia recente, a ida para a tac, a constatação de hidrocefalia por disfunção da ventriculostomia, o aperto no coração, a preparação urgente da cirurgia e a realização da mesma pelas 0h30 de dia 5 de outubro. mais umas horas, apareceu a mãe ana com o coração nas mãos, o filipe e o diogo com quem estive a fumar desalmadamente lá fora.
e foi assim que o gaspar ganhou um shunt, uma válvula na cabeça que regula a saída do LCR por um dreno algures até à barriga. o receio era mesmo espalhar o que não interessava espalhar (células más), mas talvez não. inevitável mesmo era colocar aquela coisa para regular o fluxo de LCR, vital também para uma boa recuperação do gaspar.
porque aguentou o gaspar mais umas 7h de hidrocefalia? porque teve de esperar o segundo episódio tendo o historial já mencionado?? até onde podem essas sete horas ter afectado mais o gaspar? porque me mentiu a enfermeira dizendo que tinha falado com o médico?? porque não deram mais atenção???
voltámos outra vez lá para baixo num ambiente de alguma consternação pelo retrocesso do gaspar e lá ficámos até à saída no dia 16 de outubro.
fica aqui a memória desse dia mais à frente.
5 comentários:
passo todos os dias pa saber de ti gaspar , ja nao te vejo como antes pois ja nao trabalho naqele supermercado mas vou continuar a torçer por ti pois sabes conquistaste-me e eu sei que vais ganhar esta guerra pois es um pequeno(grande)heroi
papas continuem com a mesma força
gustavo es um lindo menino
GASPAR ES O MAIOR
(ex-peixeira daquele supermercado)
todo o discurso é muito doloroso
abraços & beijos aos Évora Veiga!
principalmente ao enoorme Gaspar!
admiro muito a vossa força, são uma licão de vida!
estaremos sempre convosco e com o Gaspar no pensamento!
Cristina (Pol) Valério
... ainda não é hoje que consigo escrever aqui.
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