terça-feira, 25 de setembro de 2007

memória de um dia + à frente




esta fotografia foi tirada depois de uma intervenção cirúrgica. já tinha acontecido há uns dias no sentido de restabelecer ligação entre os ventrículos (ventriculostomia) que teria ficado afectada pelo tumor. o gaspar estava a recuperar de uma meningite, tinha um dreno para o exterior por onde saía o líquido céfalo-raquidiano (LCR), um contentor para onde ia esse liquor que tinha de estar a uma determinada altura relativamente ao nível da cabeça e os médicos queriam desfazer-se desse dreno que parecia só trazer problemas. estando a melhorar da meningite era premente desfazerem-se daquela entrada directa para a cabeça de bicharada maléfica. resolveram então submeter o gaspar a mais uma intervenção que se resultasse evitaria ter de colocar um shunt (derivação ventrículo-peritoneal), um objecto que se pudesse não estar para o futuro, seria bom. disseram-nos que as 24h a seguir seriam vitais para o bom resultado da cirurgia, depois poderíamos descansar. lá fomos no dia 25 de setembro para mais um ritual daqueles de deixar o gaspar na sala de operações, nas mãos do dr joaquim pedro e da dra conceição marques, desejar um bom trabalho e sair lavado em lágrimas.

umas horas de espera nos separaram de estarmos de novo no quarto. nessa noite eu e a ana fizémos um pedido especial para ficarmos os dois a dormir junto do gaspar (é permitida a permanência de um dos pais à noite, no tal cadeirão que faz de conta:), pois seria uma noite muito importante.
ficámos, correu tudo bem nessa noite, correu tudo bem no dia seguinte, aliviámos, continuou a correr tudo bem, com o gaspar a ter uma excelente recuperação nesses dias. que bom, que contentes. assim seria melhor para os tratamentos que ainda viriam.

no dia 4 de outubro, estava eu a chegar para render a ana e eis que estava tudo em mudança, estavam a levar o gaspar para a enfermaria no 7º piso do hsfx, ia sair lá de baixo da urgência ... que choque. afinal lá em baixo já éramos uma família. na subida já achei o gaspar diferente, passava-se alguma coisa. era o fim da manhã, hora do almoço e depois de nos instalarmos no quarto lá veio o almoço. nessa altura estávamos a dar um xarope probiótico ao gaspar para estimular as defesas. lá em baixo já toda a gente sabia e fazia parte do esquema diário, ter uma seringa para medir, arranjar um sumo para a mistura, mas lá em cima, tudo foi uma novidade. tudo pareceu estranho e ainda por cima quem nos recebeu não foi ninguém que fosse do nosso conhecimento. parecia estarmos a começar tudo de novo.

dado o historial de hidrocefalias do gaspar, avisei as enfermeiras que estava a achar o gaspar muito sonolento. depois do almoço veio o primeiro vómito e voltei a alertar. a capacidade de resposta do gaspar estava a piorar, os olhos fechavam. eu que sou o pai seria supostamente o melhor interlocutor, mais ainda quando o gaspar estava sem falar. a enfermeira disse que ia falar com o médico e ... não o fez dizendo que o tinha feito, olhando com ar desconfiado para o xarope. durante a tarde tentei tudo o que já tinha resultado em fazer rir o gaspar e nada.
à noite o episódio voltou a repetir. já passava das nove quando o gaspar no meio da sua sonolência soltou mais um vómito violento. daí para a frente foi a vinda do médico, o dr miguel casimiro, mais umas voltas à volta do xarope não fosse aquilo ser provocado pelo dito, principalmente por constarem no processo do gaspar hidrocefalias e ventriculostomia recente, a ida para a tac, a constatação de hidrocefalia por disfunção da ventriculostomia, o aperto no coração, a preparação urgente da cirurgia e a realização da mesma pelas 0h30 de dia 5 de outubro. mais umas horas, apareceu a mãe ana com o coração nas mãos, o filipe e o diogo com quem estive a fumar desalmadamente lá fora.

e foi assim que o gaspar ganhou um shunt, uma válvula na cabeça que regula a saída do LCR por um dreno algures até à barriga. o receio era mesmo espalhar o que não interessava espalhar (células más), mas talvez não. inevitável mesmo era colocar aquela coisa para regular o fluxo de LCR, vital também para uma boa recuperação do gaspar.

porque aguentou o gaspar mais umas 7h de hidrocefalia? porque teve de esperar o segundo episódio tendo o historial já mencionado?? até onde podem essas sete horas ter afectado mais o gaspar? porque me mentiu a enfermeira dizendo que tinha falado com o médico?? porque não deram mais atenção???
voltámos outra vez lá para baixo num ambiente de alguma consternação pelo retrocesso do gaspar e lá ficámos até à saída no dia 16 de outubro.
fica aqui a memória desse dia mais à frente.


5 comentários:

Anónimo disse...

passo todos os dias pa saber de ti gaspar , ja nao te vejo como antes pois ja nao trabalho naqele supermercado mas vou continuar a torçer por ti pois sabes conquistaste-me e eu sei que vais ganhar esta guerra pois es um pequeno(grande)heroi
papas continuem com a mesma força
gustavo es um lindo menino
GASPAR ES O MAIOR
(ex-peixeira daquele supermercado)

fi disse...

todo o discurso é muito doloroso

pedro disse...

abraços & beijos aos Évora Veiga!
principalmente ao enoorme Gaspar!

MySelf disse...

admiro muito a vossa força, são uma licão de vida!
estaremos sempre convosco e com o Gaspar no pensamento!

Cristina (Pol) Valério

Duarte Évora disse...

... ainda não é hoje que consigo escrever aqui.